Desde muito nova, Raissa Rojter já sabia que quando crescesse seria estudiosa. Nascida em 1919, numa pequena cidade da Polônia, a 25 km da fronteira com a Rússia, a garotinha tomou gosto pelos estudos aprendendo a rezar com o pai, que além de rabino era professor.
“Quando a Segunda Guerra Mundial estourou em 1939, vivemos uma época de medo e pavor. Morávamos a 25 km da fronteira russa. Na medida em que os alemães avançavam até as regiões soviéticas, os russos conseguiram contê-los e nos libertaram! Ficamos aliviados, não havia mais ameaça de morte, mas mesmo assim ficamos muito tempo assustados”, lembra.
Todos começaram a trabalhar, apesar das grandes dificuldades de abastecimento, pois naqueles tempos era muito difícil conseguir comida. Raissa tinha um emprego na prefeitura e aprendeu um pouco de russo na escola.
Ela aproveitou para fazer faculdade, que era a única coisa que estava ao seu alcance e que não exigia ter dinheiro. Assim, no dia 19 de junho de 1941, embarcou para Minsk, capital da Rússia Branca (Bielorússia). No dia seguinte fez a inscrição e o exame na faculdade de Economia, e chegou feliz à casa em Minsk onde estava hospedada, avaliando como a mudança tinha o lado bom. Sentiu-se satisfeita por ter conseguido o que muitos gostariam de ter feito.
Às duas horas da madrugada do dia 22 de junho de 1941 o ministro Molotov anunciou pelo alto-falante (rádio havia sido proibido e televisão não existia) que, apesar do pacto de não-agressão, os alemães invadiram a União Soviética, declarando guerra. Raissa tentou voltar para casa, mas não foi possível. Toda a família havia ficado em Nieswiez e ela, em Minsk, sem poder fazer nada.
Minsk foi bombardeada naquele mesmo dia e Raissa diz não haver palavras para descrever o que aconteceu: os bombardeios envenenaram a água! Sua família, incluindo o irmão e a irmã, faleceram. Dois dias depois, os moradores abandonaram a casa em que Raissa estava hospedada e foram em direção ao bosque, escondidos, com a roupa do corpo e quase sem alimentos. Ficaram ali alguns dias, cavando buracos na terra para se esconder. Posteriormente, abandonaram o bosque e em uma semana conseguiram alcançar um trem, que foi várias vezes bombardeado, sendo que o trem anterior havia sido queimado. E foi assim que ela chegou até o centro da Rússia, onde trabalhou e estudou.
Em 1945 acabou a guerra e Raissa recebeu o direito de voltar para sua terra natal. Regres sou para Lodz e casou-se com Jakov, com quem teve seu filho, Walter.
Raissa Rojter faleceu em 22 de abril de 2013 durante a elaboração deste livro.