Abrão

Voluntario

Abrão nasceu em março de 1969. Filho caçula de Benjamin e Sara Dimant, quando criança Abrão queria tornar-se médico do resgate do corpo de bombeiros para realizar muitos salvamentos. Sua irmã, Slove, é a mais velha, seguida de Carlos e Rubens.

Montar carrinhos e casas com brinquedos plásticos de encaixes era sua diversão predileta ao lado de Rubens, com quem mais brincava devido à proximidade de idades.

“Ainda sou muito ligado a ele, falamos uma vez por semana pelo telefone. Ele mora em Ofakim, em Israel, e há dois meses nasceu seu décimo filho.

Faz uns seis anos que não o vejo, mas sempre mantemos contato. Me dou bem com todos meus irmãos que me cuidam e me querem bem”, comenta Abrão.

Entre os acontecimentos da infância lembra de uma professora que, ao ver a bagunça feita pelos alunos da classe, resolveu castigar todos mandando escreverem cinquenta vezes o nome da Porção da Torá, o que Abrão achou muito injusto já que não teve nada a ver com aquilo…

Desde pequeno Abrão observa o Shabat. Estudou na escola Talmud Torá, no Lubavitch e depois na yeshivá de Petrópolis, onde permaneceu por dois anos e meio, até completar 20 anos.

Das boas lembranças visualiza seu avô materno que vinha visitá-los todas as terças-feiras e sempre trazia surpresas gostosas como balas ou chocolates.

Depois da yeshivá Abrão foi trabalhar com o irmão Carlos, hoje rabino, para ajudá-lo na loja de consertos de bicicletas que havia aberto na época na Rua Afonso Pena. “Eu sabia consertar algumas coisas”.

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Antes de seu acidente, Abrão estava sempre saindo, passeando. Gostava de caminhar no Shabat para rezar e visitar outras sinagogas. Difícil era achar o Abrão em casa.

Trabalhou como free lancer em cashrut, sendo contratado como mashguiach por diversas instituições. Acompanhava os jovens do Netzah nos finais de semana, quando iam para locais diferentes.

Abrão tem transtorno bipolar, mantido sob controle com medicamentos apropriados e consultas semestrais ao psiquiatra. Anos atrás sofreu uma forte crise de depressão que o levou a uma internação em clínica psiquiátrica. Ele tinha 33 anos na época, era novembro quando tudo mudou em sua vida.

“O enfermeiro que me cuidava era muito ruim, me maltratava e negava-se a alcançar minha alimentação casher. Certo dia ele veio com um monte de remédios na mão e me medicou por conta própria. Eu não quis engolir, mas ele me obrigou à força. Tive febre alta que não baixava nem com banho frio nem com medicamentos. Descobri mais tarde que permaneci em coma durante alguns meses. Passei por cinco hospitais para tentarem me diagnosticar, estava paralisado nas pernas e com a fala difícil ao sair do coma. Tive encefalite e desde então estou preso à cadeira de rodas.”

Atualmente o tempo do Abrão é preenchido semanalmente com exercícios realizados por uma dupla que investe em seu bem-estar e o auxilia a ter um melhor condicionamento: a fonoaudióloga e o fisioterapeuta que o acompanham desde 2004.

“Meu fisioterapeuta é como um amigo, bom conselheiro. Sempre diz que tenho que agradecer a D’us por não ter tido uma meningite ou algo semelhante que pode deixar sequelas muito graves. Apesar de meu progresso lento, não teria nenhuma esperança se meu caso fosse mais grave, e graças a D’us, nada afetou minha cabeça. Ele frisa sempre que minha recuperação só depende de mim, e que as chances são boas. Hoje consigo caminhar na sacada de nossa casa apoiando-me nas barras que meu pai instalou, desço as escadas segurando no corrimão e faço exercícios na bicicleta especial que meu pai montou na oficina de bicicletas, no térreo de nossa casa, para melhorar meu equilíbrio.

No Shabat dependo de alguém para vir me buscar e empurrar minha cadeira para poder ir à sinagoga. Quando essa pessoa não vem, acaba sempre esquecendo de avisar e me deixa esperando todo arrumado. É chato, mas não há nada a fazer. Isto gera uma ansiedade em mim todos os Shabatot. Meu pai é idoso e não tem forças para empurrar a cadeira de rodas.”

Para ocupar o tempo Abrão lê livros, assiste televisão e vê filmes em DVD. Costumava ir à Unibes, que apesar de ser próxima à sua casa, não há quem o leve até lá. Sente falta das atividades da instituição que lhe davam bastante coordenação motora e, das quais, infelizmente teve que abrir mão. Mas ele se adaptou rapidamente e agora lava louça, tira a mesa do café da manhã e coloca a do almoço, organiza a cozinha e, desta forma, mantém movimentos para coordenação motora.

“Hoje em dia não tenho muitos amigos e quase não saio de casa. Mas tenho um amigo, o Cecil Montak, que me visita praticamente todas as semanas e quando não pode vir me liga avisando. Posso falar que ele é um amigão. Algumas vezes saímos para passear. Ele sabe levar bem minha cadeira e tem forças para me ‘aguentar’.

Muitas vezes balanço em minha fé. Fico pensando por que D’us permitiu que isto acontecesse comigo e me deixou doente e preso a uma cadeira de rodas. Penso que se D’us é tão bom, por que ele não faz um milagre para que eu possa sair andando. Por outro lado, preciso agradecer, eu poderia estar em uma situação bem pior. Acho normal que esses pensamentos negativos às vezes invadam minha mente, embora tente desviá-los e pensar positivamente.

Recebo visitas do Projeto Lev desde que ele foi criado. Aliás, a Yael sempre enfatiza que fui o primeiro visitado, e que o Projeto foi desenvolvido por minha causa, para poder ajudar outras pessoas também, levando mais otimismo aos que têm dificuldades para sair de casa ou que estão desanimados ou um tanto solitários. As visitas do Projeto Lev me distraem e paro de pensar no estado em que me encontro. Tenho vários momentos agradáveis e os devo às voluntárias”.

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